06/10/2004

A Donzela do Hula- Hoop


Joana d'Arc nasceu em Domrémy, em 1412. Filha de camponeses, desde pequena distinguiu-se pela sua espantosa habilidade a manejar o hula-hoop. Com uma técnica inconfundível, Joana era capaz de manter vários arcos em movimento, desde o pescoço até à ponta do mindinho do pé. Adorada pelos franceses e invejada pelos ingleses, Joana D’Arc integrou a companhia de circo da corte de Bourges, onde se encontrava o Delfim Carlos, herdeiro do trono francês (nessa altura sem poder exercer as suas funções, pois o trono estava a ser disputado por franceses e ingleses, na famosa Guerra dos Cem Anos). Joana, rapariguinha com 13 anos, fez 16 km desde a sua aldeia até Chinon, para participar nos castings. Havia algum tempo que a moça afirmava ver o arcanjo São Miguel e as santas Margarida e Catarina, e que estes lhe diziam para ir ter com o Delfim, pois este podia meter uma cunha e ela integraria a companhia sem grande esforço. A VERDADE DA HISTÓRIA descobriu, através de uma aturada e extensiva análise da Bíblia, que esta gente que Joana dizia que lhe aparecia eram, na realidade, ascendentes da grande família Cardinali: Santa Margarida, uma amazona destemida, Santa Catarina, uma contorcionista fantástica, e São Miguel, o domador de feras. Assim que Joana referiu estes nomes, a companhia aceitou-a imediatamente.
Porém, a miúda queria ir mais longe. No auge da sua carreira, Joana D’Arc ia para os campos de batalha (o que era preciso era carne para canhão, logo ninguém pôs entraves à ideia doida da rapariga). O propósito de Joana era distrair a cavalaria inglesa, cavaleiros e cavalos, com actuações de hula-hoop em plena batalha. Diz quem assistiu que aquilo devia ter sido filmado, que a mulher era um espectáculo, que mesmo com cabeças, braços e pernas a serem lançados em todas as direcções, Joana portava-se como uma profissional! São talentos que raramente voltam a aparecer... Assim, na primeira batalha em que Joana actuou, em Orléans, o entusiasmo dos combatentes franceses, fortalecido pela estranha figura da artista-soldado, fez com que os ingleses levantassem o sítio da cidade. O feito glorioso de Joana d'Arc, pelo qual foi cognominada a Donzela de Orléans, aumentou o seu prestígio, mesmo entre os soldados inimigos.
Após esta vitória, outras viriam, agraciadas pelas actuações artísticas da Donzela do hula-hoop. Mas os bons tempos teriam o seu fim. Joana foi raptada na batalha de Compiègne pelos ingleses e seduzida por vários empresários artísticos que queriam representá-la. Extremamente patriota, Joana não cedia aos ingleses. Dizia que só trabalhava para franceses. Até que Pierre Couchon, que estava do lado inglês, bispo e grande nome da stand up comedy, vendo que Joana d’Arc era tão apreciada e receando que a sua carreira fosse posta em causa por uma pirralha de 19 anos, lançou a polémica: Couchon desconfia que as aparições dos santos e as extraordinárias actuações, que chegavam a demorar horas, sempre com os hula-hoops em movimento à volta do corpo, se deviam à cocaína com que a artista se drogava desde criança. Joana era uma farsa que vinha enganando o seu público, no campo de batalha, há anos. Semelhantes acusações eram gravíssimas. A cocaína era bastante rara e devia ser deixada aos nobres e clérigos.
Joana d’Arc passou de bestial a besta em pouco tempo. Os espectáculos que fazia eram escassos e o público já não a respeitava. Vendo-se em difícil situação económica, a rapariga do hula-hoop fala com o empresário de Houdini, quando este vai a França, durante uma digressão mundial, e entram em acordo: Joana d’Arc passa a ser assistente de Houdini. O primeiro espetáculo tinha lugar na praça do Mercado Vermelho, em Rouen, e era uma verdadeira prova-de-fogo para Joana- num dos números do mágico, a miúda ficava no meio de fados de palha a arder, amarrada a um poste, algemada, acorrentada e amordaçada (porque havia crianças a assistir ao show e não convinha assustá-las com gritinhos de dor); Houdini tinha depois de a salvar das chamas. Aquilo foi ensaiado uma vez e correu bem. Faltava o fogo, mas a arte não se pode prender neste tipo de pormenores. Na hora do espectáculo é que a coisa falhou... E Joana d’Arc, aquela que tanto deu à França, acabou esturricada, perante o olhar estupefacto do público (-Eh,pá! Cheira a porco queimado! Ó Maria, afinal querias ver os truques do Houdini, ou estavas com ideias de vir jantar fora?).